LIÇÃO 01
AS DIMENSÕES DAS BEM AVENTURANÇAS.
Amigo leitor seja bem vindo, antes de entrar no assunto bem-aventuranças quero em poucas palavras relembrar o contexto geográfico e o propósito do Sermão do Monte.
1- CONTEXTO GEOGRÁFICO.
A maior parte do ministério de Jesus se desenvolveu ao norte de Israel, nas redondezas do mar da Galileia. Naquelas imediações está o Monte das bem-aventuranças, onde pregou o mais conhecido sermão de todos os tempos, dando base aos princípios gerais do Reino de Deus.
2- PROPÓSITO DO SERMÃO.
O Sermão do Monte é a síntese do ensino de Cristo para o povo. Antes da Igreja se consolidar como agente do Reino de Deus na terra o Senhor tomou a iniciativa de descortinar ao núcleo apostólico, através desta primeira grande explanação pedagógica, as vigas mestras que constituem o modelo de vida cristã trazido pelo Reino de Deus, em outras palavras, a ética cristã.
3- DIMENSÃO PRESENTE.
Agora sim vamos falar sobre as dimensões das bem-aventuranças. Tanto as bem-aventuranças quanto os demais princípios bíblicos do Sermão do Monte podem ser vistos sob dois ângulos: a dimensão presente e a dimensão escatológica poque ambos se interpõem e se completam. Há os que vinculam estes princípios apenas a manifestação futura do Reino de Deus, como se pudessem ser experimentados aqui e agora. Eles o fazem porque interpretam a expressão ¨reino dos céus¨ ultilizada por Mateus e que aparece no Sermão do Monte, como referente ao reino milenial, o que excluiria a validade desses princípios para a época presente.
Mas na verdade, comparando-se os sinóticos(Mateus,Marcos e Lucas)verifica-se que ¨reino dos céus¨ em determinadas passagens, equivale em Mateus a expressão ¨Reino de Deus¨, Jesus deixou claro que a chegada do Reino de Deus é um ato presente na história(Mt.C.04 v.17), portanto se esta manifestação presente é uma verdade escriturística, não há como excluir desta era e situar apenas no futuro os ensinos éticos e as bênçãos proclamadas do Sermão do Monte, entre as quais as bem-aventuranças.
4- DIMENSÃO ESCATOLÓGICA.
Todavia sob o ângulo escatológico, haverá um tempo em que o Reino de Deus vai se manisfestar de forma física, como lemos em Apocalipse C.11 v.15, quando então esses princípios e as bênçãos decorrentes serão experimentados de modo perfeito e absoluto. Hoje conhecemos em parte( 1 C.13 v.9 e 10.) e nos submetemos voluntariamente ao senhorio do ¨reino do filho do seu amor¨ mas quando as etapas finais do plano de Deus tiverem seu cumprimento, seremos então introduzidos a essa nova dimensão do Reino em que poderemos viver em toda a plenitude e justiça a imagem perfeita de Cristo.
5- DIMENSÃO DO COMPROMISSO.
Mas as bem-aventuranças e os demais princípios do Sermão apontam também para a dimensão do compromisso. Este padrão ético constituído por Deus para o seu povo, com o qual cada crente precisa estar comprometido é referencial que norteia a vida cristã.
Não se trata de legislação para ser cumprida nos moldes da lei mosaica, porque esta, apesar de revelar a trangressão não foi suficiente para resgatar o homem de seu estado pecaminoso( Gl C.03 v.24 e 25), mas por outro lado nenhum esforço humano é capaz de cumprir por si mesmo este elevado padrão de santidade exigido por Deus.
O único e legítimo recurso que torna o crente apto a estar em condições de expressar em sua relatividade humana esses requisitos, quanto as circunstâncias o exigem é viver permanentemente sob a graça de Deus em Cristo.
6- OS HUMILDES DE ESPIRITO.
Outras traduções trazem ¨pobres de espirito¨. Esta expressão tem sido mal compreendida. Muitos pensam que ela se aplica a alguém medíocre, um débil mental. ¨Fulano é um pobre de espirito¨, diz-se em tom de desprezo, mas Jesus mostra como virtude e não como deficiência. Mas então amigo leitor, o que Ele queria dizer?
A palavra ¨pobre¨ aqui empregada significa ¨mendigo¨. É a mesma usada para Lázaro( Lucas C.16 v.20), Jesus não fala do pobre que tem bens escassos, mas do mendigo, do totalmente sem posses. A expressão sempre deu dor de cabeça aos exegetas, mas nos manuscritos do mar Morto o termo aparece e esclareceu a questão. A expressão aramaica para ¨pobre¨é anieh, que significa ¨humilhado¨( dando sentido a tradução ¨humilde¨) Jesus declara bem-aventurados os que são de espírito humilhado, os humildes.
Aqueles que se curvam humildemente diante de Deus estão no caminho da retidão, andando com ele, e na direção do reino. Só uma pessoa quebrantada, consciente de que nada é, e que precisa da bondade de Deus pode entrar no reino, os orgulhosos e os que se auto-justificam não conseguirão.
7- OS QUE CHORAM.
Esta bem-aventurança diz respeito aos que estão aflitos. O Messias viria para consolar os aflitos e os que choram(Isaías C.61 v.1 e 2) A Palavra grega usada por Mateus é penthountes, com a ideia de choro, de luto. Não é o choro poético ou melancólico, mas o de dor profunda. É o choro do coração quebrado, sofrido. Quem chora assim será consolado.
Analise comigo duas coisas, primeiramente não é em meio a gargalhadas que encontramos Deus. Muitos o encontram em meio a dor e sofrimento, porque nesses momentos o coração humano busca consolo e se abre para ele. A segunda é que Deus é o Deus de toda a consolação(2 Co C.01 v.3 e 4) aquele que esta desesperado, machucado pela dor, muitas vezes chorando sua situação espiritual, está no caminho do reino( como o peregrino, no inicio do livro O peregrino). Nossos cultos muitas vezes tem um ar de festa, alegrar-se no Senhor é bom, muito bom, mas e o quebrantamento? E o grito de Isaías ¨ai de mim!¨, onde está aquele que chora seus pecados, sua condição, que busca consolo em Deus. Quem assim fizer estará no caminho do reino e será consolado.